quarta-feira, 19 de setembro de 2012

O que você deve saber resumidamente sobre: intolerância a lactose



Gente, essa é a maior dívida que eu tinha com todos vocês: escrever sobre a intolerância a lactose.
Há MUITO tempo que venho oferecendo receitas sem lactose, falando da minha intolerância e nada de escrever seriamente sobre ela. Inicialmente, a ideia era pedir para uma amiga nutricionista escrever, mas felizmente ela está sem tempo, trabalhando bastantão. Fiquei eu mesma com essa lição de casa (atrasada, eu sei!) mas já me redimi desta grande falha, e então, vamos ao que interessa.

Esse assunto rende horas e horas de conversa porque há muita polêmica envolvida: alguns profissionais da saúde defendem que todo ser humano apresenta algum tipo de intolerância a lactose  enquanto outros defendem que a ingestão do leite é indispensável para a saúde, devido a fonte de cálcio. 
Porém, antes de entrar nessa questão e explicar o que tenho lido sobre o assunto, é importante esclarecer o conceito de intolerância a lactose, que nada mais é do que a intolerância ao açúcar do leite. Utilizamos o termo "intolerância a lactose" para pessoas que não conseguem digerir produtos lácteos, ou seja, leite e seus derivados (e aqui cito desde queijos até a comidas preparadas que levem qualquer quantidade de lactose, variando de pessoa para pessoa). Essa impossibilidade de digestão acontece porque essas pessoas apresentam uma insuficiência ou ausência da enzima lactase. Mas o que seria essa enzima? Ela é a grande responsável pela hidrólise, ou seja, pela quebra da lactose em galactose e glucose, dois monossacarídeos. De uma maneira grosseira, digamos que é a lactase quem digere a lactose. Nesses casos, a pessoa intolerante pode apresentar apenas uma redução desta enzima (podendo ser os casos em que a pessoa apresenta uma pequena intolerância a lactose) ou a total ausência (casos em que a pessoa não pode nem passar perto de uma vaquinha que já começa a ter reações). Não sendo absorvida ou mal absorvida, a lactose é fermentada por bactérias causando gases e sintomas típicos de indigestão. Esse problema é quase sempre hereditário.

Mas que diabos a intolerância a lactose tem a ver com a doença celíaca, ou melhor, com este cantinho?

Lembram das vilosidades (para relembrar, clique aqui), tanto faladas durante a fase do diagnóstico? Nessa fase, compreendida entre o pré-diagnóstico e diagnóstico, as vilosidades (localizadas no intestino) de um celíaco encontram-se em atrofia parcial ou total, certo? O que acontece é que, com a atrofia, há uma redução da enzima lactase, acarretando na intolerância a lactose. Vou explicar como a médica me explicou: "Para você entender de uma maneira bem simples, o que acontece é que como você está com o intestino todo inflamado e ele tem uma dificuldade de digerir o glúten e, pelo fato de a lactose ser digerida no mesmo lugar, não há a digestão dela também. Então, inicialmente retiraremos o glúten e a lactose da sua dieta e depois, aos poucos, a lactose poderá ser reintroduzida novamente." 
O grande problema é que o que ela me explicou aconteceu ao contrário, sabe-se lá o porquê. Eu nunca me senti bem, desde criança, tomando leite. Sempre reclamava. Mas, ao descobrir a doença celíaca fiquei me perguntando: "Eu passava mal pelo leite (lactose) ou pelo achocolatado (que contém glúten)?". Ficou uma dúvida imensa e, com o alívio da descoberta do diagnóstico, eu só retirei o glúten da dieta e continuei consumindo lactose, até que alguns meses depois, comecei a perceber que meu organismo não aceita muito bem a ideia de receber leite e seus derivados.  O problema maior não seria o leite de vaca em si, pois não consumo há muito tempo, mas sim os derivados (eu amo requeijão, creme de leite, leite condensado...). Comentei com a médica e ela me fez um pedido de exame para diagnosticar a intolerância. Depois de descobrir como é feito o exame, desisti da ideia e resolvi fazer um teste terapêutico, que consiste na retirada da lactose da dieta por uma semana e depois na reintrodução dela na semana seguinte. Meu tio, um pediatra super estudioso, disse que é um teste totalmente válido, pois se você não passar bem porque vai insistir em consumir? E assim fiz. Na segunda semana, com a reintrodução da lactose, percebi o quanto ficava com a barriga inchada, cheia de gases e náusea (pra variar!). A partir disso, decidi ir me testando pra saber o quanto sou intolerante. 

Muitos médicos e outros profissionais da saúde defendem que a população apresenta uma perda progressiva da capacidade, nos primeiros anos de vida, de absorção da lactose. Em resumo: leite é  alimento para bezerro, ou melhor dizendo, para bebês e crianças. Aliás, vocês já pararam para pensar que os humanos são os únicos que consomem leite quando adultos? Estranho, não é? 
Lembrando que todo o leite de origem animal contém lactose. Assim, quando você ver o leite de vaca zero lactose (como o da Piracanjuba aqui) ou queijos de ovelha zero lactose, saiba que eles só são assim devido ao processo a que são submetidos. 




E já que estamos falando sobre a intolerância a lactose, não posso deixar de citar os sintomas, super importantes para uma luzinha acender e você desconfiar que pode ter também. Eles são diversos, mas os mais comuns são diarréia (ou constipação), cólicas, distensão abdominal, gases, náuseas e sintomas de má digestão, sendo que a severidade deles dependerá da relação entre quantidade de lactose ingerida e o quanto dela seu organismo tolera.
Desconfiou? É necessário buscar uma ajuda profissional. Um médico poderá ajudá-lo a descobrir se você realmente tem a intolerância ou não. Para isso, além de te ouvir, ele poderá pedir exames que comprovem o que você está relatando. Atualmente, podemos contar com 4 tipos de exames
- De sangue: o paciente ingere um concentrado de lactose (calma! não é leite, é só um líquido) e durante duas horas terá a glicose medida em várias amostras. Você deve estar se perguntando o que a glicose tem a ver com a lactose, não é? O nível de glicose reflete a digestão do açúcar do leite. Se a lactose não é quebrada, o nível de glicose não vai aumentar e, como consequência, o diagnóstico de intolerância a lactose será confirmado. Então, não se esqueça: no seu exame não virá escrito "positivo ou negativo". Por isso a importância de retornar ao médico com o resultado.
Este foi o exame que a minha médica me pediu. No entanto, eu não quis fazer. Há relatos de pacientes que após a ingestão do concentrado, no laboratório mesmo, já possuem certeza de que são intolerantes a lactose.
- Hidrogênio exalado: este exame irá medir a quantidade de hidrogênio exalado, que em situações normais é bem pequena. Com a intolerância, as bactérias do intestino grosso fermentam a lactose não digerida, produzindo vários gases, incluindo o hidrogênio, que por sua vez é absorvido e, ao chegar ao pulmão, é exalado. Para isso, o paciente ingere uma solução de lactose e o hidrogênio expirado é medido em intervalos regulares. Quanto mais alto o nível, maior a intolerância a lactose.
- Deposição de ácidos: a lactose não digerida é fermentada pelas bactérias e produzem ácido láctico e ácidos graxos, podendo ser detectados em uma amostra de deposição. Este é um exame indicado tanto para crianças pequenas como para criança maiores.
- Exame genético: é o mais novo e talvez, a melhor forma de se diagnosticar a intolerância, por ser rápido e não provocar incômodos ao paciente. O paciente terá uma pequena amostra de sangue retirada e o seu DNA será estudado para verificar se há mutação em relação a produção de enzima ou não.

E como tratar a intolerância?
Assim como a doença celíaca, a intolerância a lactose não tem cura.  O único jeito é não consumir ou consumir na quantidade que seu organismo tolera. É possível encontrar no mercado cápsulas de lactase, um suplemento alimentar que auxilia na digestão da lactose. Porém, aqui no Brasil ele é BEM caro. A grande dificuldade de se fazer uso delas é que não há uma prescrição única. Há que se ir testando se a quantidade de cápsulas que você tomou é suficiente para a quantidade de lactose que você ingeriu.
Quando estive em Miami, encontrei as cápsulas por aproximadamente 11 dólares. Mas como sou bem adaptada a dieta, não vi necessidade de trazê-las. 


Cápsulas de lactase
Com relação a dieta, no caso de você ser intolerante a lactose, evite alimentos como:
- leite de vaca (de animais, no geral, se não tiver certeza de como foi processado)
- queijo fresco
- manteiga
- requeijão
- creme de leite
- iogurtes a base de leite
- bolachas, bolos e pudins que levam leite ou derivados na receita
- adoçantes em pó

As opções que podem substituir os alimentos mencionados acima são:
- leite com baixa lactose
- leite zero lactose, como o da Piracanjuba
- leite de soja
- leite de arroz
- alguns queijos da Balkis

Uma questão super importante e que julgo necessária citar aqui é a diferença entre intolerância a lactose e alergia ao leite. A intolerância a lactose, como pode se ver no começo deste post, é caracterizada pela alergia ao AÇÚCAR do leite, enquanto que a alergia ao leite é caracterizada pela alergia a PROTEÍNA dele.

E mais uma vez, não é doença mas também não é frescura.

E então, como repor o cálcio?
O cálcio é um nutriente encontrado em grande quantidade no leite. Porém, com a intolerância a absorção do cálcio terá que vir de outras fontes. Nesses casos, é fundamental buscar a ajuda de uma nutricionista e/ou nutrólogo, como preferir. 
Mas, para se ter uma ideia, existem outros alimentos ricos em cálcio, como:
- feijão
- ovos
- couve, brócolis, espinafre e verduras escuras em geral
- repolho, nabo, figo, uva passa, cenoura e laranja
- amêndoas e nozes
- gergelim
- queijo de soja (tofu)
- sardinha, marisco e algas

A substituição é totalmente possível, não é? Então, não se esqueçam de consultar os profissionais necessários.
Não custa a gente respeitar o nosso organismo e viver bem, certo?

Até a próxima.


Fonte: Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu; Semlactose

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